Ao se aproximar o Dia Mundial da Conscientização do Autismo, comemorado no dia 2 de abril, chama a atenção em Dourados (MS) a luta de um grupo de mães de autistas pela inclusão escolar de seus filhos. A “Família Azul Dourados” nasceu em janeiro deste ano, antes mesmo do início das aulas. É composto por pais, mães, avós e familiares de crianças autistas que trocam experiências e se uniram em apoio mútuo pelos direitos de seus filhos. 

“A gente divide o desenvolvimento com autistas, sobre terapias, terapeutas, planos de saúde, direitos, compartilha histórias, comemoramos progressos das nossas crianças. Fazemos encontros para socializar entre nós e nossas crianças. Fazemos acolhimentos, ajudamos pessoas que ainda tem dificuldades com as que estão recebendo diagnósticos”, explica Karina Pedroso Lopes, mãe da Heloísa. 

O grupo compartilha experiências, instruções, a luta com relação às leis, dicas e vagas sobre terapeutas, dificuldades no dia a dia e as conquistas das famílias. “Uma acolhe a outra. Estamos fazendo amizades, uma vai na casa da outra. As que têm afinidades, vão se aproximando”, complementa a ativista. 

Grupo “Lutamos pela Educação” 
Da Família Azul Dourados nasceu também o movimento “Lutamos pela Educação”. A iniciativa surgiu em apoio à greve dos profissionais da educação da rede municipal de ensino por valorização profissional. “Quando houve a notícia da greve, nós pais, em sua maioria, concordamos em apoiá-la. Porque a gente sabe do papel importante do professor, da valorização que ele tem que ter, tanto dentro do sistema quanto pela sociedade”, conta Jessica Cariaga, mãe de duas crianças autistas.

“A valorização tem que ser salarial, porque professor tira dinheiro do bolso para absolutamente tudo. Digo isso porque cresci numa família onde minha mãe é professora. Uma família de professores da rede estadual e municipal. E sempre vi isso. Nós pais, principalmente de crianças com deficiência, a gente tem que ter uma sintonia muito grande no ambiente escolar e papel do professor. Então, a gente optou por apoiá-los”, disse a ativista.

Segundo Jessica, o grupo fez uma denúncia no Ministério Público relacionada à situação de sete crianças especiais em Dourados. Eles ainda recolhem informações de outras famílias e anexam na denúncia. “Tem muito aluno autista fora da sala de aula”, denuncia a mãe. “A minha mais velha de 4 anos está numa sala que tem uma profissional de apoio especializada. A criança que está com ela na mesma sala também é autista, mas as demandas dela são muito diferentes das da minha filha”, ressalta. 

“O meu mais novo não tem nenhum tipo de suporte na escola. Ele não é verbal. Não se comunica. Tive que ficar com ele na escola, se não ele não ficava. Ele fica andando na sala, bate a cabeça na parede. A gente sabe que o professor de apoio é muito mais que ensinar o A, o B. A contratação de professores é feita sem se preocupar com as necessidades dos alunos”, diz.

“A escola tem um papel importantíssimo. Ela seria a base do tratamento dos nossos filhos, do desenvolvimento das nossas crianças. E a gente percebe que isso não é levado à sério. E a gente sofre com isso, os terapeutas sofrem com isso. Inúmeros terapeutas estão apoiando e mandam apoio para os professores, porque eles sabem da importância. É urgente que seja feita uma política pública inclusiva de verdade aqui na nossa cidade, e de valorização desses profissionais que trabalham com nossos filhos”, defende.

Segundo Karina Pedroso, na Escola Municipal Efantina de Quadros, onde sua filha estuda ainda tem seis crianças especiais sem apoio. “A gente critica a Semed que é mal organizada. Todo ano é mesma coisa, não contrata os professores para que comece o ano já com o quadro completo. Leva-se dois meses para contratar professores para ter apoio dentro da sala de aula. Socorro! É muito mal administrado. É muito pouco caso, é muita falta de respeito com a educação, com as famílias, sabe!”, exclama a mãe de autista.

Segundo ela, a rede pública de ensino é melhor que a rede particular para dar atenção às crianças com deficiência. “A minha experiência com os professores apoio do município é a melhor. É a escola mais acolhedora, com adaptação do material, empática. Os professores são magníficos, são pessoas que não trabalham somente pelo salário, mas estão muito mais preocupados com as crianças. São pessoas incríveis, que dão o sangue, dão atenção, de verdade. Amo a escola que a minha filha estuda. Amo os professores de lá, toda a equipe é maravilhosa”, exalta pedroso. 

“São pessoas que tem uma caminhada dentro da educação especial e fazem a toda a diferença na vida dos nossos filhos para melhor. A gente acredita que a qualidade da educação passa pelo salário. O professor precisa comer, vestir, ter qualidade de vida. Então, a gente briga por isso, pela qualidade da educação e pela qualidade de vida dos nossos profissionais”, conclui a mãe”.

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